Sei o que é passar necessidade e sei
o que é ter fartura. Aprendia a viver contente e toda e qualquer situação, seja
bem alimentado, seja com fome, tendo muito ou passando necessidade. Tudo posso
naquele que me fortalece. Filipenses
4:12-13
Não só na
Bíblia mas também na vida militar, aprendi a me contentar com o meu salário,
que aliás consta no regulamento militar como transgressão da disciplina gastar
além dos proventos. O interessante é que tentamos passar isso aos nossos
filhos, pregamos isso nos púlpitos, e partindo da premissa de que devemos viver
o que pregamos, gostaria de trazer a voga a seguinte reflexão: Será que a administração eclesiástica no
geral, em tese formada por homens tementes a Deus, age nesse princípio?
Confesso que
não é o que tenho percebido e não quero aqui apontar denominação A ou B,
trata-se de um mal que está afetando no geral, não importando se a
administração é Episcopal, Presbiteriana ou Congregacional.
Exemplificando
melhor: Se uma igreja tem uma receita mensal de R$ 10.000,00 com previsão de
gastos de R$ 9.500,00 com água, luz, telefone, prebenda, contador etc, sabendo
que há uma pequena oscilação para mais ou para menos, deveria se adequar a
administrar esse valor. Mas ao contrário disso, querem que a cada mês esse
valor se multiplique gradativamente e assim ostentar o título de
"Ministério Próspero".
Ocorre que
a administração eclesiástica assumiu um cunho empresarial exigindo
produtividade a qualquer custo. Não se admite mais que uma igreja com mais
membros gere mais custos, a visão é de que quanto mais membros, maior a
receita. Nesse curso fazem planejamentos de metas que normalmente não
alcançariam se não apelassem para a captação de recursos, mesmo que seja
necessário o constrangimento através de pregações tendenciosas e até mesmo
ameaças com textos distorcidos.
Esquecemos
que o dono da obra é Deus e Ele é quem dá a provisão. Se Ele quiser que se faça
além, ele mesmo vai prover através pessoas que foram abençoadas financeiramente
e a melhora na receita será através das contribuições ordinárias e não de
campanhas e mais campanhas lançadas por motivos diversos.
Temos que
nos preocupar mais no crescimento espiritual da igreja com pregação da palavra,
qualificação de professores, aprofundamento de temas bíblicos voltados para o
contexto atual, e aí sim as demais coisas serão acrescentadas.
Lembro-me do
saudoso Pastos Daniel Serenado, que nunca vislumbrou tais vaidades, seu
interesse era uma igreja sadia e revestida contra heresias. Em uma das igrejas
que pastoreou e que fui membro, ele institui em consonância com a assembleia de
membros que somente no dia de ceia, uma vez no mês, se recolheria dízimos e
ofertas, nos demais cultos não teria, porque o objetivo principal era adoração
e pregação da palavra. O gazofilácio só
era colocado em um cantinho e próximo à entrada as pessoas colocavam suas
contribuições, evitando até que pessoa se deslocasse até a frente para fazê-lo,
talvez até constrangendo aquele que não tinha como contribuir. A mesma frase
era repetida no primeiro domingo de cada mês, no momento de entrega de dízimos e
ofertas: "Nossos visitantes fiquem à vontade, pois esse é um compromisso
nosso como membros mantenedores desta obra"! O resultado disso é
que durante o tempo que estive lá, a igreja permaneceu cumprindo o seu papel
naquela localidade, sem nada faltar.
Pelos
lugares que passei, não foram poucas vezes que após longo período evangelizando
uma família, convidando à comparecer em um dos cultos, as vezes buscando em
casa, e logo na chegada na igreja o visitante era surpreendido com boas vindas
e a "cobrança antecipada do ingresso" através de envelopes ou
listinhas de alguma campanha.Tal comportamento me deixava frustrado,
pois era perceptível o constrangimento no rosto das pessoas, que na maioria das
vezes, nunca mais retornavam. Muitas iam na esperança de receberem algo novo e
diferente em suas vidas, mas saíam se sentindo exploradas e eu na minha
frustração, triste e até achando que foi tudo em vão.
Hoje vendem
o evangelho como mercadoria barata, anulando o sacrifício de Cristo na cruz, o
mais alto preço Jesus já pagou para nos mostrar que a graça é de graça para
nós, e se assim não fosse, jamais teríamos como pagar.
Marcos Silva